segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Poesia: Balas racistas (POR RUBENS RIBEIRO DA SILVA)


Nos barracos telhado de eternit 
De madeira de caixote de papelão 
Os gatos estão no postes 
Os fios no chão 


Corredores estreitos 
Cheiro de esgoto 
Ainda sim, meninos brincam inocentes 
Às vezes nem tanto assim 
Outros nem tanto assim 
Outros são tão hostis 
Nem brinquedo nem caderno 
Os lápis são fuzis 


Tem menino que tomba jovem 
muito cedo o ódio floresce 
O estado não reconhece 
Que também é cidadão 
Não é dele esta nação 


Ele não tem direito 
Desde que nasceu 
Vive num mundo paralelo 
Que o estado esqueceu 


Bandido atira na policia 
Bandido atira em bandido 
Policia atira em bandido 
Policia vira bandido 
Bandido vira policia 
Povo vira refém 
Lei não tem 
Quem é quem não sei 
Terra sem lei 
Terra de ninguém 


As balas que cortam os barracos 
É o rico que paga 
Aqueles que trabalham pra ele 
Muitas vezes não paga 
Em cima das pontes e viadutos os carros caros 
Embaixo o miserável 
Que a sociedade desprezou 
Que a droga o álcool se apossou 


Este é nosso estado militar 
Que gente vale menos que carro 
Que defende a propriedade e extermina humanos 
Que empurra sua sujeira 
Pra debaixo do tapete 
Que enfrenta a indignação do povo 
Na base do cassetete 


Em se tratando de exclusão 
Os pretos são muito mais 
Algemas nos pulsos dos pretos, são muito mais 
balas no corpo dos pretos, são muito mais 
Isso não é por acaso 
Posso te dar uma pista 
A bala que sai do revolver 
Pode ser uma bala racista






Rubens Ribeiro da Silva - Presidente da UNEGRO de Jaguariuna / SP, Assessor do Sindicato dos Metalúrgicos de Jaguariúna, Membro da Direção do PDdoB de Jaguariuna.